segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Alice no pais das maravilhas




Há algo de muito misterioso e talvez perverso na história real do escritor inglês Lewis Carroll (1832-1898), autor de um dos livros infantis mais lidos no mundo, Alice no país das maravilhas (1865). Atrás do espelho de suas aventuras fantasiosas, narradas ao gosto do mais carrolliano nonsense, estão os bastidores de uma história mal-contada, que já rendeu um sem número de interpretações e permanece cheia de lacunas. Afinal, que estranha relação era aquela entre um homem 20 anos mais velho e Alice Liddell, a garotinha de sete anos, que virou musa inspiradora do livro, ”melhor amiga” e modelo de uma série de fotos que mais parecem obra de um incorrigível pedófilo? Será que alguma vez o reverendo Charles Lutwidge Dogson, nome verdadeiro de Carroll, chegou a tocar de forma impudica no pequeno objeto de sua veneração?

São dúvidas permanecem no ar há mais de um século. Mas publicações recentes lançam novas luzes - e acendem outras questões - sobre a polêmica. A edição comentada de Alice, com introdução e notas de Martin Gardner, um dos maiores especialistas em Carroll e sua obra do mundo, é uma delas. Gardner fez um texto paralelo às histórias da menina Alice, com notas tão elaboradas que são quase ensaios, revelando novidades fascinantes sobre seu autor e suas personagens.

Mesmo porque muito do repertório do autor foi escrito para leitores britânicos do século passado, e algumas piadas só poderiam ser entendidas por aqueles que moravam em Oxford, adverte Gardner. Ele também não se furta de questionar se as crianças contemporâneas, mais acostumadas ao ritmo das aventuras de Harry Potter, ainda se interessam pela obra de Carroll. A resposta é não. ”As crianças de hoje sentem-se aturdidas e às vezes apavoradas pela atmosfera de pesadelo dos sonhos de Alice. É apenas porque adultos - cientistas e matemáticos em particular - continuam a apreciá-lo que os livros de Alice têm sua imortalidade assegurada”

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